II Cúpula China-CELAC – Santiago 2018

II Fórum China-CELAC: prosperidade compartihada ou dependência?

Autora: Laura Neves

 

A primeira reunião ministerial do Fórum China-CELAC aconteceu em Pequim no começo de 2015, concretizando a criação de um novo bloco regional de cooperação para o desenvolvimento. Durante a elaboração do Plano de Cooperação China-CELAC 2015-2019, definiram-se as áreas de investimento mais relevantes, como infraestrutura, energia e transporte, e as principais medidas da cooperação coletiva a serem promovidas bilateralmente. Além de áreas prioritárias para o fortalecimento das relações inter-regionais, o sexto ponto da Declaração de Santiago, redigida no início de 2018, decide sobre a concordância mútua de expandir os temas abordados pelo Plano de Ação Conjunto. Esse ponto acaba por incluir as temáticas de política e segurança, corrupção, drogas e crimes cibernéticos. Tais agendas têm adquirido crescente importância por causarem desequilíbrios políticos internos nos países da América Latina, consequentemente prejudicando as relações de cooperação para o desenvolvimento entre a região e a China.

 

Além dessas novas modalidades de cooperação, Pequim oficializou a inclusão da CELAC na Belt and Road Initiative (BRI) por meio da declaração especial “Um  Cinturão, Uma Rota”. Essa medida é percebida pelos países latino-americanos como uma oportunidade para diminuir a lacuna de tecnologia e infraestrutura que permanece sendo uma das grandes dificuldades para o avanço do desenvolvimento na América Latina e no Caribe. Contudo, tal perspectiva promove uma estratégia de bandwagoning que reforça uma relação bilateral desigual entre os países da região e a China, ao invés de incentivar um multilateralismo que de fato propicie maior equilíbrio de poder biregional.

 

Apesar dos investimentos externos diretos (IED) da China na América Latina terem aumentado como previsto no Plano de Cooperação 2015-2019, surge um grande questionamento sobre se tais transações realmente impulsionam o desenvolvimento na América Latina devido à concentração de recursos em determinados setores, como soja, ferro e petróleo, e em determinados países, como Brasil, Peru e Argentina. Atendendo a essa demanda, o ponto 5.9 acordado durante o II Fórum China-CELAC visa a diversificar as regiões receptoras de IED, focando nos Países Menos Desenvolvidos, Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento e Países em Desenvolvimento sem Litoral. Outra crítica que pode ser tecida é sobre qual tipo de desenvolvimento vem sendo implementado nas políticas de cooperação China-CELAC, pois grande parte dos investimentos é voltada à extração de commodities primárias negligenciando modelos de desenvolvimento mais sustentáveis.

 

Apesar das críticas feitas pelos países latinos americanos, não houve declarações sobre a diversificação dos tipos de investimentos diretos chineses durante a reunião ministerial. Isso leva à conclusão de uma cooperação que pretende ser sempre vantajosa ao Estado chinês, enquanto oferece apenas benefícios pontuais aos países da CELAC.  É de extrema importância, portanto, que a China diversifique os alvos setoriais de investimento se realmente deseja ser coerente com o discurso de uma cooperação para o desenvolvimento ganha-ganha (win-win). Ademais, é primordial considerar o como as novas políticas de cooperação e de bandwagoning dos fóruns podem estar facilitando uma polarização do poder no sistema internacional, acarretando em um determinado subjugo da região a uma potência emergente que é motivada por interesses nacionais do mesmo modo que outras potências do globo.

Publicado em dezembro de 2018